Política: Por que ter empatia por quem discorda?
🗳️ Política: Por que ter empatia por quem discorda?
por Daniel Carvalho
Jonathan Haidt é psicólogo social e seu trabalho desmonta uma crença muito comum: a ideia de que nossas opiniões políticas são frutos da razão, do debate lógico, da análise fria dos fatos.
Não são.
Segundo ele, a moralidade está menos nas ideias e mais nas entranhas — nas intuições, nas emoções que brotam antes mesmo das palavras.
A razão? Vem depois. Como uma assessora de imprensa do que já sentimos.
Haidt propõe uma imagem potente: a mente humana é como um elefante (a intuição) guiado por um cavaleiro (a razão).
Achamos que é o cavaleiro quem conduz — mas quase sempre é o elefante que escolhe o caminho. A razão só inventa explicações para justificar o trajeto.
Em seu livro A Mente Moralista (The Righteous Mind), Haidt apresenta seis fundamentos morais que moldam nosso senso de certo e errado:
• Cuidado vs. dan
• Liberdade vs. opressão
• Lealdade vs. traição
• Autoridade vs. subversão
• Sagrado vs. degradação
• Justiça vs. trapaça
Os progressistas tendem a valorizar mais fortemente os três primeiros: cuidado, liberdade e justiça.
Já os conservadores distribuem mais igualmente entre os seis fundamentos, dando mais peso também à lealdade, à autoridade e ao sagrado.
Ou seja: o embate político não é só desinformação ou má-fé — como tendemos a pensar.
É diferença de mapas morais.
Essa leitura me transformou.
Entendi que moralidade não é apenas racionalidade — é construção histórica, emocional, biológica e cultural.Somos seres tribais, moldados por códigos diferentes de convivência. Uns preservam. Outros reformam. Ambos são necessários.
Isso não significa que tudo se equivale. Nem que devemos aceitar o inaceitável.
Mas significa algo mais difícil:
Saber escutar mesmo quem pensa diferente.
Reconhecer que a discordância nem sempre nasce da crueldade, mas de alicerces morais distintos.
A empatia, nesse cenário, não é ingenuidade — é estratégia evolutiva.
É talvez o que mais falta ao nosso tempo.
Porque opinião, já temos demais.
O que anda em falta é escuta.
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