Netanyahu, a guerra e o colapso da verdade

 por Daniel Carvalho 

Benjamin Netanyahu enfrenta hoje um dos momentos mais turbulentos de sua longa trajetória política. Pressionado por todos os flancos, o primeiro-ministro israelense vê sua base interna fragmentar-se entre exigências cada vez mais radicais e protestos contra o que muitos consideram uma deriva autoritária sem precedentes.


De um lado, sua coalizão, dominada por partidos da extrema-direita e grupos ultranacionalistas religiosos, exige medidas ainda mais severas, movidas não por justiça, mas por sede de domínio e revanche. De outro, o centro político e diversos setores da sociedade civil se manifestam contra os abusos em Gaza e denunciam os riscos de um colapso institucional, com o Judiciário sob ataque e a democracia israelense sendo minada por dentro.

Fora das fronteiras de Israel, o cenário também se deteriora.

Países europeus, organizações de direitos humanos e até aliados históricos como os Estados Unidos começam a endurecer o discurso. Investigações sobre possíveis crimes de guerra estão em andamento no Tribunal Penal Internacional, e o nome de Netanyahu já circula em dossiês que o associam a graves violações do Direito Internacional Humanitário. Nesse contexto, a guerra funciona não apenas como estratégia militar, mas como cortina de fumaça: uma forma de projetar firmeza enquanto se evita qualquer responsabilização real.


É nesse ambiente que ocorrem os recentes ataques a alvos iranianos. Embora simbólicos, tais ataques reativam o medo de uma guerra regional de grandes proporções. Israel tem como alvo centros de inteligência e bases da Guarda Revolucionária do Irã, mas não possui, até o momento, capacidade comprovada de neutralizar com eficácia instalações nucleares subterrâneas como Fordow ou Natanz, fortemente protegidas por camadas de concreto e sofisticados sistemas de defesa aérea. Mesmo com armamento bunker-buster, uma ofensiva eficaz exigiria apoio internacional e colocaria o mundo à beira de uma nova escalada global.


O momento escolhido para essa ação militar também levanta suspeitas. O Irã havia sinalizado disposição para retomar negociações indiretas com os EUA, sob mediação da União Europeia, com vistas a limitar temporariamente seu programa nuclear em troca do alívio de sanções. Para muitos analistas, o ataque israelense foi uma jogada para sabotar esse avanço diplomático, reforçando internamente a retórica da ameaça existencial e, ao mesmo tempo, inviabilizando qualquer diálogo que enfraqueça o discurso bélico de Netanyahu.

Enquanto isso, Gaza segue devastada. De acordo com dados do Ministério da Saúde local e organizações internacionais, mais de 55 mil palestinos foram mortos desde o início da ofensiva em outubro de 2023, a maioria civis. A infraestrutura básica colapsou: hospitais destruídos, escolas atingidas, crianças mutiladas, bairros inteiros reduzidos a pó. A ONU e a Cruz Vermelha alertam para uma catástrofe humanitária sem precedentes. E ainda assim, a máquina de guerra segue girando, alimentada por narrativas de segurança, mas sustentada por uma lógica de extermínio.

Neste cenário, a guerra contra o Irã assume contornos ainda mais sombrios. Não se trata apenas de geopolítica, mas de maila o a da der ado. aza, guerra ou nacional sara

interno e adiar qualquer forma de julgamento, seja moral, político ou jurídico.


Ao final, o que está em jogo não é apenas um território. É a própria noção de convivência humana que se vê ameaçada.

E o que se sustenta, sob o pretexto de defesa, é um projeto de poder disposto a silenciar povos inteiros, mesmo que, para isso, seja preciso transformar o mundo em ruínas.


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