Doces surpresas
Terceiro dia de esteira, e ele ainda assombrava meus pensamentos.
Decidi seguir como da última vez: encarar o desconforto da caminhada sem música, sem celular, sem distrações.Comecei austero, firme, suportando o incômodo já conhecido, mas agora consciente da minha capacidade de atravessá-lo.
Assim como o desconforto de perdê-lo. Eu suportaria, e com o tempo também me acostumaria.
Até que, nos cinco minutos finais, uma música me surpreendeu.
Minha mãe colocou para tocar, e resolvi aceitar aquele presente.
Foi quando percebi que não preciso ser tão rígido comigo mesmo. Nem tudo precisa ser campo de batalha.
Tenho essa tendência de acreditar que tudo só tem valor se for conquistado com dor, como se o esforço extremo validasse a jornada.
Mas eu não preciso, como a personagem de *Livre*, percorrer sozinha milhares de quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma perigosa trilha que liga o México ao Canadá, para me perdoar.
Às vezes, pessoas — ou a própria vida — oferecem pequenos amortecedores.
E talvez o verdadeiro aprendizado seja esse também: saber aceitar o alívio sem culpa.
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