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Mostrando postagens de julho, 2025

Pensar caminhando

  Que bom que voltei a caminhar. Eu li que Nietzsche pensava e e tinha as ideias para os seus livros caminhando. Para ele, o movimento do corpo era parte essencial do movimento do pensamento.    Eu tive uma outra perspectiva sobre o que conversamos agora. Sobre o medo. Eu tenho um padrão de não me responsabilizar pelas coisas. No livro eu notei que coloco minha mãe como super protetora, meu avô como semi deus, minha avó como alguém que não sabia amar, minha família como fria. E quando trato da forma como gastei a herança pouco me responsabilizo. Não que em alguns momentos eu não seja duro comigo, até corajoso ao me expor mas pouco me responsabilizo. É como quando passei um tempo justificando o meu passado como causa para estar deixando o medo me impedir de andar ao invés de me responsabilizar, aquele que é a única pessoa capaz de enfrentar o medo e mudar o desconforto que estou sentindo.  Quando você anda, o movimento regula o sistema nervoso, diminui o cortisol e li...

A Substância: quando o discurso é potente, mas o cinema falha

  A Substância: quando o discurso é potente, mas o cinema falha A beleza que sangra é mais vendável do que a que cala. Mas o que dizer quando até o grito vira fetiche? Coralie Fargeat queria explodir Hollywood com sangue feminino. E conseguiu. Só não percebeu que o estouro foi tão alto que ensurdeceu seu próprio discurso. A Substância , celebrada como um marco do horror feminista, é um filme dividido entre intenção e forma. A proposta é clara: denunciar o culto à juventude, expor a mutilação simbólica imposta às mulheres que envelhecem, desenterrar os mecanismos patriarcais que associam valor ao viço. Tudo isso é necessário — e, talvez por isso, muitos hesitam em dizer que o filme fracassa na execução. A primeira parte é uma sucessão de símbolos evidentes: o espelho, o cartaz, o vizinho zombeteiro, o corpo envelhecido filmado como ruína. Tudo grita “você está velha” — e grita tanto que o grito se torna ruído. Não há nuance. Não há progressão dramática. Há apenas uma repetição estét...

Política: Por que ter empatia por quem discorda?

  🗳️  Política: Por que ter empatia por quem discorda? por Daniel Carvalho Jonathan Haidt é psicólogo social e seu trabalho desmonta uma crença muito comum: a ideia de que nossas opiniões políticas são frutos da razão, do debate lógico, da análise fria dos fatos. Não são. Segundo ele, a moralidade está menos nas ideias e mais nas entranhas — nas intuições, nas emoções que brotam antes mesmo das palavras. A razão? Vem depois. Como uma assessora de imprensa do que já sentimos. Haidt propõe uma imagem potente: a mente humana é como um elefante (a intuição) guiado por um cavaleiro (a razão). Achamos que é o cavaleiro quem conduz — mas quase sempre é o elefante que escolhe o caminho. A razão só inventa explicações para justificar o trajeto. Em seu livro  A Mente Moralista  ( The Righteous Mind ), Haidt apresenta seis fundamentos morais que moldam nosso senso de certo e errado: • Cuidado vs. dan •       Liberdade vs. opressão • Lealdade vs. traição...

Psiquiatra e loucura

  O que chamamos de cuidado pode ser só controle disfarçado Foucault, loucura e o mito da neutralidade institucional Michel Foucault nos ensinou a desconfiar. Não apenas de governos, mas de tudo aquilo que se apresenta como “natural”, “objetivo” ou “neutro”. Para ele, não existe saber sem poder. E onde há poder, há hierarquia, exclusão, controle. Mesmo instituições vistas como nobres — ensino, medicina, direito, psiquiatria, economia, ciência — estão atravessadas por interesses, normas sociais e discursos que moldam o que é considerado certo, sadio, normal. “A justiça é sempre exercida dentro de um sistema de poder.” — Michel Foucault A medicina, por exemplo, que hoje se veste de jaleco e autoridade, já diagnosticou homossexualidade como doença, mulheres como histéricas por sentirem demais, corpos negros como biologicamente inferiores. Já considerou a leitura de romances algo perigoso para o equilíbrio emocional feminino. Já aplicou eletrochoques como rotina. Tudo isso em nome do “...

A Inteligência Artificial Pode Ajudar na Terapia?

  A Inteligência Artificial Pode Ajudar na Terapia? Reflexões sobre tecnologia, sensibilidade humana e o futuro do cuidado emocional Quando os jornalistas com diploma se levantaram contra os autodidatas, ou quando os médicos criticaram dentistas por fazerem procedimentos estéticos na face, o que estava em jogo não era apenas ética. Era território. O velho jogo de poder que se disfarça de preocupação com a ordem, mas no fundo teme perder o trono. O mesmo ocorre hoje com a entrada da inteligência artificial no campo da saúde mental. Há quem diga: “IA não pode ser terapeuta.” Falta empatia, falta humanidade.” E é verdade. Falta. Mas será que a proposta é mesmo substituir? ⸻ Ferramenta, não substituto Terapeutas lúcidos dizem algo mais sensato: “Use a inteligência artificial como ferramenta. Um espelho auxiliar. Uma lente a mais. Mas nunca como substituto da relação humana.” E faz todo o sentido. Porque a IA não vê o que está fora do texto. Ela não percebe a pausa antes da resposta, o ...