Amor: Da Pedra ao Fluxo

Texto em construção 


por Daniel Carvalho


Durante muito tempo, amor, para mim, era como em Os Sofrimentos do Jovem Werther: incondicional, idealizado, quase sagrado.
A imagem da pedra de Bolonha, que guarda a luz do sol por um tempo, me marcou profundamente. Werther pedia ao mordomo que levasse a pedra até Carlota - era o que podia ter dela. Um reflexo. Um rastro de presença.

O cinema alimentou esse romantismo. As Pontes de Madison, Vestígios do Dia, A Época da Inocência - todos me ensinaram a beleza do amor não concretizado.
Não o não correspondido, mas aquele que existe mesmo sem se realizar. Amor platônico no melhor sentido: independente do outro para existir.

Mas a vida tem outras gramáticas. A dor da traição, do abandono, do silêncio.
Em Closer, vi o amor se despedaçar no olhar de Natalie Portman, quando sua personagem, frágil, pergunta: "Posso ainda te ver?". O amor como espelho se quebrava. E eu já não sabia o que via.

Ao mesmo tempo - com filmes como Antes do Amanhecer e Antes do Pôr do Sol - minha visão também mudou.
O romantismo cedeu lugar à lucidez. O amor ainda era possível, mas agora não como mágica, e sim como escolha.

Na faculdade de Letras, aprendi que o amor é também construção social.
Do cortês ao líquido. Até o amor materno, dizem, foi historicamente moldado. A biologia cria o vínculo - a cultura o reinventa.

Hoje, acredito que o amor deveria ser como o platônico: um estado de presença que não exige nada.
Mas sei como isso é difícil. Somos feitos de carne e carência. Queremos ser vistos, tocados, escolhidos.

Talvez o amor não seja mais pedra. Talvez agora ele seja água - que corre, se molda... e mesmo assim, sustenta a vida.

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