Mudança
Intermináveis caixas, sim, intermináveis! Porque nos mudamos de um apartamento que parecia aqueles lares de idosos acumuladores. Incontáveis e foram embaladas com suor e sangue em uma tentativa de não fracassar em mais uma coisa depois de ter perdido feio no concurso público para o qual tinha parado a vida para estudar. E também porque tinha apanhado de uma forma brutal da vida que achava que se parasse, que se não me mantivesse em constante movimento, a tristeza poderia tomar conta de mim. Eu precisava estar em movimento até o meu corpo chegar no limite da exaustão, onde não me restasse tempo para sentir outra coisa que não fosse cansaço.
Mudanças são como ritos de passagem. Trazem uma carga simbólica de que as coisas podem ser diferentes.
Ela me fez pensar sobre a importância do desapego, muito além do significado da moda a que se atribui a palavra, de consumismo sustentável, mas num sentido de permitir a circulação de energia entre as pessoas, de estabelecer uma real conexão de troca com o outro, onde você entrega aquilo que não mais te serve sem apego para alguém que acolherá aquilo. E o entendimento de que precisamos abrir mão de algumas coisas e pessoas para dar espaço para o novo. As vezes nos acostumamos com frequências de dores e desconfortos conhecidos com medo de nos abrirmos para o novo. Com suas novas possibilidades de rejeição, mas rejeição desconhecida, fora da zona de conforto. Com ele sei que repeti padrões. Relações construídas na ideia de que amor tem que rimar com dor e na dependência emocional. Eu tentei me fundir a ele em uma bolha asséptica que eu mesmo construía. Redoma de vidro, que ao invés de flor, guardaria carne podre. Sim, nos tornaríamos podres e abjetos. Ele que nunca abriu espaço para entrar no meu universo. Achava que minha forma de falar soava sofisticada, erudita e chata. O maior presente que se pode dar a alguém é a nossa presença. Presença real. E ele nunca esteve lá. Acho que ele me fez amá-lo porque era o único do seu grupo de amigos que não me atraía e isso feria a sua vaidade. Sua autoestima frágil construída à gritos onde afirmava as suas “qualidades”.
Eu o amei em cada instante. Em tudo o que doía nele. Queria salvá-lo, protegê-lo dele mesmo e do que achava que ele poderia fazer da própria vida. Só que dessa vez não foi diferente. Mais uma vez, ele veio como uma novem de gafanhotos. Destruiu o que pôde e quando não conseguiu achar mais nada que pudesse tirar, partiu. Desestabilizou minha vida financeira, fez com que eu fosse despejado do apartamento, me fez ter raiva das pessoas porque criava situações nas quais devia ter raiva dele e poderia me prolongar nessa lista, mas chega. Chega de você, seu moleque. Você ficou com todo o lixo que estava acumulado no apartamento. Não me interessa a “beleza” (bem entre aspas mesmo) burra da juventude com seus corações de ervilha. Eu sou exótico. Gosto das coisas que me fogem a percepção. Depois de tantas relações que me danificaram está sendo mais fácil dizer adeus para você! Não tenho mais medo de últimos olhares, o que tenho medo é de não consegui esquecer você da minha vida. Happier then ever!
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