O que aprendi com Jonathan Haidt

O que aprendi com Jonathan Haidt

 

por Daniel Carvalho

 

Descobri Jonathan Haidt por acaso, lendo a lista de livros do Clube do Livro com Gabriela Prioli e Leandro Karnal.

Depois de entrar em contato com sua obra, nunca mais pensei da mesma forma sobre política ou moralidade.

 

Haidt é psicólogo social, e seu trabalho desmonta o senso comum de que nossas posições políticas são fruto da razão, do debate, da argumentação lógica.

Segundo ele, a moralidade está muito menos nas ideias e muito mais nas entranhas — ela nasce das emoções, das intuições. A razão? Vem depois, apenas para justificar aquilo que já sentimos.

 

A mente humana, diz Haidt, é como um elefante (a intuição) guiado por um cavaleiro (a razão).

Achamos que o cavaleiro conduz — mas quase sempre é o elefante quem escolheu o caminho. O cavaleiro apenas inventa boas explicações para não parecer que está sendo arrastado.

 

Em A Mente Moralista (The Righteous Mind), Haidt aborda essa metáfora e nos mostra que as diferentes visões políticas não são apenas fruto de desinformação ou má-fé, como tendemos a pensar quando confrontados com opiniões opostas.

São, na verdade, expressões de diferentes “fundamentos morais” — seis eixos principais que moldam nossa visão de mundo:

                  •               Cuidado vs. dano

                  •               Liberdade vs. opressão

                  •               Lealdade vs. traição

                  •               Autoridade vs. subversão

                  •               Sagrado vs. degradação

                  •               Justiça vs. trapaça

 

Enquanto progressistas tendem a valorizar mais fortemente cuidado, liberdade e justiça, os conservadores equilibram isso com lealdade, autoridade e sacralidade.

Ambos acreditam estar defendendo o bem. Mas operam com mapas morais diferentes.

 

Essa leitura me transformou.

Entendi que moralidade não é apenas racionalidade — é herança biológica, histórica, cultural. Somos moldados para viver em tribos, e essas tribos criam códigos distintos de convivência. Alguns conservam, outros reformam. Ambos são necessários.

 

Isso não significa que todas as ideias sejam iguais, ou que devamos aceitar tudo.

Mas significa algo mais difícil e mais urgente: ser capaz de escutar mesmo quem pensa diferente.

Perceber que a discordância nem sempre nasce da má-fé, mas de estruturas morais diferentes.

Que a empatia pode ser revolucionária. Jonathan Haidt não defende o relativismo. Mas nos convida a cultivar generosidade moral.

Talvez, o que mais falte ao nosso tempo não seja opinião. É escuta.

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